data-filename="retriever" style="width: 100%;">Se bem me lembro das aulas de catecismo, depois alicerçadas na preparação ao batismo e confirmação no crisma, sedimentadas em 16 disciplinas que tive a oportunidade fantástica que tive de assistir como aluno especial no curso de Teologia do Colégio Máximo Palotino, a Quaresma é um tempo litúrgico que começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos, totalizando 40 dias.
Desde pequeninos nos foi ensinado que esse período deveria ser de reflexão profunda, de introjeção espiritual, de arrependimento dos erros, da busca do perdão, do convívio fraterno. Lembro que a saudosa e sempre amada vó Olina, que morava ao lado da minha casa quando criança, depois da janta me convidava para rezar o terço na frente do seu oratório, repleto de imagens com seus santos de preferência. Nem sempre ía de boa vontade, mas jamais ousei magoa-la.
Mas o que realmente eu queria dizer é que, ao longo dos anos, perdeu-se no seio da sociedade - pelo menos na maioria das pessoas com as quais convivo - o sentido real da Quaresma. A prática do jejum e da abstinência, levadas a sério na prática a partir do século IV pela Igreja, foram abandonadas praticamente. O propósito firme de abandonar o ódio, a inveja, o ciúme, o rancor, o exercício público do perdão, o despojamento e a opção pelos pobres, etc, passaram a ser vistos como atitudes piegas ou bizarras. Às vezes, dignas de chacotas e piadas.
Mas eis que surge o coronavírus-19! E, com ele, a imposição da Quarentena! Em plena Quaresma!
Que ironia! Que mistério!
Um microrganismo desprezível faz a humanidade toda se curvar, ficar de joelhos, deixar um pouco da sua onipotência e se recolher à força para a intimidade das suas casas para tentar não morrer. Senhores poderosos de todas as nações com olhos amedrontados, boca e nariz cobertos por máscaras, dão entrevistas na TV. Artistas famosos cancelam seus shows. Estádios de todos os esportes estão vazios. Olimpíadas de Tóquio ameaçadas de cancelamento. Bares, boates, restaurantes, clubes, igrejas e shoppings fechados.
Polícia tem de percorrer balneários, praias, ruas e avenidas e retirar transeuntes que teimam em desobedecer as ordens das autoridades da saúde pública. Escolas de todos os níveis e universidades cancelaram suas aulas. Fronteiras de países são fechadas. Rodoviárias, aeroportos, ônibus municipais e estaduais paralisados. Bancos e lotéricas prejudicadas.
Hospitais, médicos, paramédicos e autoridades ligadas à área da saúde pública preparando estratégias para os infectados que virão e terão de ser atendidos. Que Deus abençoe todo esse imenso exército de avental branco que estará expondo sua própria vida para salvar a vida alheia. Particularmente, tenho imenso orgulho de um neto que está no quinto ano de Medicina da UFSM e, mesmo sem aulas, está desde o primeiro momento trabalhando de voluntário no hospital.
Nosso jornal ao longo dos últimos dias, mercê do trabalho duro de toda a equipe, está oferecendo à população santa-mariense uma cobertura completa sobre a epidemia em nossa cidade e região, além dos vídeos veiculados pelas redes sociais.
Poderia fazer colocações críticas, políticas, partidárias, descendo a lenha ou elogiando este ou aquele, ao sabor da minha preferência pessoal. Não é do meu feitio e nem do meu estilo nesta minha fase de vida. A meu juízo, o país precisa, neste momento, de um cristão espírito de união. Aquele espírito inicial que a Quaresma deve ter. Deixar limpo nosso coração, livre de todos os ódios. Para que Deus possa nele agir, operar, levar a tranquilidade.
A todos vocês que me dão a honra de sua leitura quinzenalmente eu desejo - com todas as forças da minha alma - que Deus lhes proteja e lhes dê muita saúde nestes dias difíceis! Se não for pedir demais, gostaria que vocês - em suas orações - pedissem saúde para meus seis amados netos! Obrigado!